Emerence. Talvez este livro (a minha estreia com a escritora húngara Magda Szabó) devesse chamar-se Emerence e não A Porta. Porque, para mim, Emerence é a alma desta obra, desta história.
Emerence. A mulher anarquista que abominava o poder. A mulher que tão cedo ficou órfã e teve de fazer pela vida, não conhecendo outra realidade que não o trabalho. A camarada que escondeu feridos de guerra e perseguidos políticos, dizendo que "devemos salvar quem é perseguido". A mulher que amou e que não foi amada como deveria. A mulher que não tinha fé, que não acreditava na hipocrisia da igreja e de um deus que fechava os olhos ao mal do mundo. Emerence, que se escondia atrás de um manto de frieza, crueza, antipatia, uma quase crueldade mas que, na verdade, alimentava quem tinha fome, acolhia e amava os animais, escondendo nove gatos dentro de casa (e por isso não abria a porta a ninguém), os únicos seres capazes de apaziguar a sua solidão. Emerence. Que cuidou e amou à sua maneira. Que morreu de tristeza ao saber que a sua casa (o seu refúgio, o seu forte), tinha sido arrombada, que os seus gatos tinham fugido, que a sua vergonha (provocada pelos handicapes da doença) tinha sido exposta. Emerence, que tanto suportou, morreu de tristeza.
Poderia dizer que este livro é uma obra-prima, escrita de forma magistral, mas isso é indiscutível e ponto assente. Poderia reflectir sobre a peculiar relação entre a narradora e Emerence. Poderia ainda dissertar sobre as questões políticas e sociais que este livro, em parte, também aborda. Mas, para mim, esta obra é Emerence, a estranha e peculiar Emerence.
Há personagens de livros que parecem reais, como se, ao serem lidas e sentidas, saltassem do papel e se transformassem em seres verdadeiros, de carne e osso e alma e coração e aroma e riso e olhar. Há um leque de personagens que, para mim, sofreram essa metamorfose, tornaram-se demasiado reais, demasiado marcantes, demasiado importantes, ganhando lugar cativo na minha prateleira das personagens especiais.
Emerence. A mulher anarquista que abominava o poder. A mulher que tão cedo ficou órfã e teve de fazer pela vida, não conhecendo outra realidade que não o trabalho. A camarada que escondeu feridos de guerra e perseguidos políticos, dizendo que "devemos salvar quem é perseguido". A mulher que amou e que não foi amada como deveria. A mulher que não tinha fé, que não acreditava na hipocrisia da igreja e de um deus que fechava os olhos ao mal do mundo. Emerence, que se escondia atrás de um manto de frieza, crueza, antipatia, uma quase crueldade mas que, na verdade, alimentava quem tinha fome, acolhia e amava os animais, escondendo nove gatos dentro de casa (e por isso não abria a porta a ninguém), os únicos seres capazes de apaziguar a sua solidão. Emerence. Que cuidou e amou à sua maneira. Que morreu de tristeza ao saber que a sua casa (o seu refúgio, o seu forte), tinha sido arrombada, que os seus gatos tinham fugido, que a sua vergonha (provocada pelos handicapes da doença) tinha sido exposta. Emerence, que tanto suportou, morreu de tristeza.
Poderia dizer que este livro é uma obra-prima, escrita de forma magistral, mas isso é indiscutível e ponto assente. Poderia reflectir sobre a peculiar relação entre a narradora e Emerence. Poderia ainda dissertar sobre as questões políticas e sociais que este livro, em parte, também aborda. Mas, para mim, esta obra é Emerence, a estranha e peculiar Emerence.
Há personagens de livros que parecem reais, como se, ao serem lidas e sentidas, saltassem do papel e se transformassem em seres verdadeiros, de carne e osso e alma e coração e aroma e riso e olhar. Há um leque de personagens que, para mim, sofreram essa metamorfose, tornaram-se demasiado reais, demasiado marcantes, demasiado importantes, ganhando lugar cativo na minha prateleira das personagens especiais.
E essa prateleira acabou de ganhar mais uma ocupante: Emerence, que ficará lado a lado com a Anna Karenina, o Crisóstomo, a Mariana, o Adrià, o Sr.Silva, a família Buendía, o David Martin, o Fermín e tantos outros seres imaginários mas tão mais reais do que muitos que deambulam por aí.
Que livro maravilhoso este. Recomendo tanto a sua leitura. Aceitam o desafio? Ou já conhecem esta obra?
Que livro maravilhoso este. Recomendo tanto a sua leitura. Aceitam o desafio? Ou já conhecem esta obra?
[Este livro foi também escolhido para o tema deste mês - Maio, maduro Maio - do clube umlivrodebaixodaasa. Porque Emerence é, também ela, uma revolução. E também porque este livro revolucionou e agitou as águas do meu coração.]
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